Rolling Stone entrevista Elza Soares

PATRÍCIA COLOMBO PUBLICADO EM 18/01/2015, ÀS 14H03
Divulgação

Personificação de diversas minorias – nasceu mulher, negra e pobre –, Elza Soares, de 77 anos, precisou dar chutes nas portas para conquistar o sucesso e o respeito que almejava. Passou fome na infância, sofreu com o moralismo da sociedade por causa do relacionamento com Mané Garrincha (que era casado quando conheceu a cantora), enfrentou os problemas de alcoolismo do jogador e viveu a traumática experiência da perda do filho do casal em um acidente de carro, anos depois da morte do companheiro. Sempre se recuperando como uma fênix, Elza segue bem-humorada e fazendo uma média de 15 shows por mês, que tem realizado sentada por causa de problemas na coluna. Entre as apresentações está o espetáculo Elza Soares Canta e Chora Lupicínio Rodrigues, que ganhará registro ao vivo. O atual momento da cantora ainda é tema de My Name Is Now, filme com recortes musicais que mistura ficção e documentário, dirigido por Elizabete Martins Campos. Elogiado, o longa estreou no Festival do Rio e busca parceiros para ser exibido em circuito comercial. “Quando me assisti, pensei: ‘Porra, que mulher foda’”, ela diz, sem falsa modéstia.

Entrevista: “Cantar ainda é remédio bom”, diz Elza Soares.

Como surgiu a ideia de fazer um filme como esse?

Conheço a Bebete há um tempo e comentei que gostaria de escrever um livro sobre mim. Ela me sugeriu fazer um longa-metragem. É um filme em que falo da Elza de agora, não tanto da Elza das porradas da vida.

E por que não quis abordar de forma mais contundente os perrengues pelos quais você passou?

Falamos disso no filme também, mas queria algo mais leve. Ao longo da minha carreira sempre consegui tudo na porrada, porque sou abusada. Até hoje falo que nunca tive um grande patrocinador. Mas também é aquela coisa, talvez com um patrocinador eu não pudesse ser o que sou.

Sim. E se eu tivesse sido como queriam que eu fosse, uma donzelinha frágil com vestido até a canela e gola no pescoço. Meu vestido só não sobe mais por causa das calcinhas [risos]. Era uma época em que se tinha uma ideia da mulher submissa, que muitas vezes era depósito para lixo de alguns homens. Nunca quis isso e sofri também. Ser livre, naquela época, foi difícil. E se minha história com Mané se passasse agora, com os jogadores ganhando milhões, não sei se eu seria a mulher dele. Conheci um Garrincha pobre e nosso amor era verdadeiro. O que sinto por ele permanece intacto.

Essa intensidade que você tem claramente vai além do cantar.

Não à toa você tem esse laço tão forte com as canções do Lupicínio.

Acho que é por isso que o show deu tão certo. Elza canta e chora Lupicínio. Entra pelo meu útero, me engravida e cada música cantada é um parto. Gravamos um registro audiovisual ao vivo em Porto Alegre, terra de Lupi. Convidei o filho dele, Lupicínio Rodrigues Filho, e o lançamento será no início de 2015.

Você era moderna em uma época de grande conservadorismo. Acha que é mais fácil ser mulher hoje?

As mulheres tinham muito medo de mim. Quando eu chegava numa festa era uma coisa de “cuidado com a Elza”. Hoje em dia elas conseguem se impor muito mais. Mas ainda há preconceito, e não só vindo do homem. Muitas mulheres são machistas sem perceber.

A representação feminina no Congresso, por exemplo, ainda é muito pequena.

As mulheres não se apoiam. Falta mulher na política. Eu tenho tanta vontade de vê-las de mãos dadas, se ajudando. E minha luta, além de ser pelos negros e pelas mulheres, sempre foi pelos gays. Alguns tratam os homossexuais como se não fossem um pedaço de nós. Eu sou todos eles.

E como está a sua coluna?

Ando fazendo muita fisioterapia. Caí do palco em 1999 e nem dei muita bola. Segui usando meus saltos de 15 centímetros. De 2007 para cá, fiz três cirurgias e tenho oito pinos na coluna. Sempre sambei no palco. Hoje, me apresento sentada, mas aprendi a dar uma tremidinha na cadeira [risos]. Espero que em 2015 eu já volte a fazer shows em pé. Acredito que com a minha vontade e entrega vai dar tudo certo.

 

acesse em: https://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-100/entrevista-elza-soares/

‘My Name Is Now, Elza Soares’ retrata história de um dos ícones da MPB – GSHOW

A cantora e compositora esteve em Salvador para lançar o longa

16/12/2014 15h58 – Atualizado em 23/12/2014 13h30
Elza Soares fala sobre documentário que leva seu nome (Foto: Divulgação)

Um dos grandes nomes da MPB e símbolo da cultura brasileira, Elza Soares é sinônimo de garra. Sua história de vida e perseverança, da extrema pobreza ao estrelato, é tão forte que a cantora e compositora inspirou a realização de um documentário que leva o seu nome, ‘My Name Is Now, Elza Soares’. Ela esteve em Salvador em novembro para o lançamento do longa e conversou com Silvinha Resende sobre sua história.

Elza conta que pediu à diretora do filme, Elizabete Martins Campos, que não colocasse coisas ruins no documentário, ou seja, que evitasse sua história de miséria, dor e sofrimento. Ela queria que o longa retratasse ‘amor, sorrisos e poucas lágrimas’. Para ela, o segredo pra ter uma atitude positiva na vida diante de tanta adversidade é a coragem.

Elza Soares fala de My Name is Now, para o GSHOW

Ela faz uma analogia com o seu nascimento ao contar que já nasceu a 500 quilômetros por hora, em frente a um caminhão, desviando para não morrer atropelada. ‘E eu vivo assim: correndo pra não ser atropelada’, conta. E complementa: ‘Eu não vim aqui pra ser uma pinta. Eu quero ser uma mancha grande, de petróleo, maravilhada!’, afirma Elza. Vale a pena rever a entrevista do Mosaico.

Saiba mais: http://gshow.globo.com/Rede-Bahia/Mosaico-Baiano/noticia/2014/12/my-name-now-elza-soares-retrata-historia-de-um-dos-icones-da-mpb.html

Em entrevista, Elza Soares fala de documentário sobre sua vida – PORTAL UAI +E

A cantora ainda conta sobre as dificuldades do início da carreira

 por Vanessa Aquino 10/11/2014 10:10

 

Elza Soares diz que a música ‘A carne’ é um grito necessário para ela (foto: Rodrigo Braga/Divulgação)

Elza Soares exala raça e paixão por todos os poros. Passou fome, correu atrás de patrocínio e até pensou em parar de cantar para criar o filho Garrinchinha — fruto da união com o craque das pernas tortas Mané Garrincha. Aliás, o torto para Elza é o certo. A conclusão veio quando a fonoaudióloga concluiu que as cordas vocais de Elza Soares são tortas e, de tão tortas, se acertam. Daí a voz que é quase uma onomatopéia e se tornou a marca registrada.


Gostou do resultado do documentário?

Olha, eu fiquei muito feliz porque o documentário recebeu quatro indicações maravilhosas. A resposta foi muito boa, além de ter sido uma experiência muito gostosa.

O cinema te encanta?
Eu acho importante porque eu nunca falei muito da minha vida. Todo mundo conhece a Elza de antes, mas não a Elza de agora. É disso o que o documentário trata: da Elza agora, por isso o nome ‘My name is now’. Eu não quis expor muito a minha vida. Porque eu não sou ontem, não sou amanhã, eu sou agora. Agora eu sou. O importante é ser agora.

A diretora do documentário, Elizabeth Martins, diz que você é uma fênix. Você se considera forte dessa forma?
Eu acho que sim. Porque eu sempre estou renascendo. Eu luto muito e não posso parar. Não me permito isso. Estou correndo atrás sempre. É a vida.

Você disse que não queria um documentário que falasse de dor e sofrimento. Qual a essência do documentário?

Desde o começo a proposta foi essa. É muito chato ficar falando de dor, de sofrimento. Não! Vamos falar de vida. Acho que o povo está necessitado de abraço. O povo está necessitado de carinho. Eu sinto isso e tenho certeza que muita gente sente também. Aquele abraço, aquele carinho, aquela verdade. Acho que é disso que todos estamos precisando. Se a gente falar de sofrimento, as pessoas saem correndo. E eu não quero passar sofrimento para ninguém.

A sua história de vida está muito atrelada à história da música do Brasil…
É verdade… é uma história muito forte e até por isso as pessoas já sabem o que passei. Até hoje corro atrás de patrocinador. Nunca tive um patrocínio para minha arte. Eu corro atrás das coisas, nada cai do céu para mim.

Sua vida tem mais episódios de prazer ou de dor?
Acho que de prazer. Porque toda dor se torna um prazer depois. Não é isso?

De onde vem essa voz que, às vezes, parece uma onomatopéia? Quando começou a cantar assim?
Desde criança. Quando comecei a cantar, eu tinha uma voz diferenciada. Meu pai e minha família não queriam porque, naquela época, mulher que cantava era prostituta. E, até hoje, a palavra que eu mais gosto é “prostituta”… Juro… Porque, no fundo no fundo, todo mundo se prostitui. Acho que no fundo a gente se prostitui muito…sem saber.. mas se prostitui.

Como, por exemplo?
No trabalho, o salário, aguentar empresário, aguentar patrão. Às vezes, a mulher está menstruada, morrendo de cólica, mas ela tem que ir trabalhar. Brigou em casa com o marido, com o namorado, tem que chegar em casa e fingir que está tudo bem, porque senão é mandada embora. Mas tem que ir, tem que ir atrás do dinheiro. E isso acontece com as mulheres, principalmente.

É verdade que você tem a corda vocal torta? Como descobriu isso?
A minha fonoaudióloga, em São Paulo, fez um trabalho com a minha garganta… Inclusive, ela está indo agora para os Estados Unidos estudar a minha garganta. A minha corda vocal dá uma distorcida…dá uma distorcida legal e eu não sabia disso. Minha corda vocal de tão torta é certa.

Aqui em Brasília tem um poeta chamado Nicolas Behr que escreveu: “Nem tudo que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do Cerrado”…
E as cordas vocais da Elza Soares também (risos). A verdade é que o torto é certo. Viva Mané Garrincha.

Você canta com muita emoção, sempre. O que a música representa para você?

Quando eu escutei Seu Jorge cantando ‘A carne’, eu vi que estava faltando gritar. A carne é um grito que a gente busca… “A carne mais barata do mercado é a carne negra”… Como vou cantar isso sem dar um berro? Quando eu canto ‘Meu guri’ também procuro cantar contando uma história. Porque o Chico (Buarque) escreveu uma história de uma mãe pobre inocente que achava que aquele guri era a coisa mais linda e mais certa do mundo e que um dia chegaria a um lugar muito alto…. Então, não tem como… ‘Meu Guri’ também é meu grito.

Quando canta ‘Carne’ você faz uma interpretação emocionante, bate no peito… De que forma o racismo afetou sua carreira?
Como eu disse, eu nunca tive patrocínio. Meu patrocínio sou eu. É por isso que dizem que eu sou uma Fênix. A Fênix quando volta, volta inteira. É o que acontece comigo. E quando eu canto, eu troco o bico, a pele e a carne, a carne negra que é linda e maravilhosa. E isso vale para qualquer mulher. A gente fez tanta coisa para chegar a algum lugar, queimou sutiã para ter direitos iguais. Se nós, mulheres, não lutarmos, isso não vai ter valido de nada. Temos que fazer alguma coisa.

Já pensou em parar de cantar?
Uma vez tive uma loucura de parar de cantar. Porque eu sempre lutei, com filhos pequenos. Corria atrás como uma louca, sabendo o quanto era difícil. Ainda mais para uma mulher negra — e a gente sabe que a negritude nesse país é olhada com uma certa indiferença. Então, fui buscar lugar para trabalhar, para criar meu filho, o Garrinchinha, e pensei em parar de cantar. Eu ia trabalhar em um orfanato, num lugar desses. Aí, no lugar onde comecei a cantar em São Paulo, vi uma faixa anunciando show do Caetano (Veloso) e resolvi ir lá para me despedir. E disse a ele: “Caetano, meu guru, vou parar de cantar.” Foi quando ele disse: “Você não pode fazer isso, porque uma abelha rainha não deixa sua colmeia.” Então, nunca mais eu pensei nisso. Nunca me esqueci das palavras do Caetano. Foi quando ele me deu ‘Língua’ para cantar com ele. A voz é um presente que Deus me deu. Eu operei a coluna, estou com 16 pinos, fazendo fisioterapia, mas a voz continua intacta. A voz está boa, cara.

Conseguiu se recuperar da cirurgia?
Estou me recuperando. Não é fácil. Eu descobri que tenho vértebra de criança, não é vértebra de adulto.

Das coisas que fazia antes e não pode mais, o que mais te faz falta?
Salto alto. Eu também tinha um piercing no umbigo e tive que tirar. Não era um piercing qualquer, tinha um brilhante. O piercing nem faz tanta falta, mas o salto alto me faz uma falta louca.

Claro, faz muita falta, porque ficar sem sambar é um castigo.

Você se considera uma sobrevivente?
Não sei o que eu me considero, não. Juro que eu não sei. Acho que eu sou um ser humano estranho. Talvez por tudo que aconteceu comigo, tanta coisa na vida… aprendi a ter paciência resignação. A vida me acalma. Tem hora que a vida dá umas porradas e diz: “acorda, pô!”

Como você vê o tratamento que o governo e a sociedade tem dado às minorias?
Hoje, fazendo um retrocesso, eu vejo que a minoria é a maioria. Esse povo, que faz parte de mim, hoje pode estudar, viajar de avião. Sei que ainda falta muita coisa para a saúde, para educação… Mas eu acho que houve uma melhora tão grande que nós, a minoria, considerados os descartáveis, estamos melhorando de vida. O filho do porteiro faz faculdade. Isso é muito bom. E eu não quero retroceder.

O que precisa ser feito, com mais urgência na luta contra o racismo e a homofobia?

Consciência, vergonha, educação. Com isso melhora. O problema é falta de educação e de consciência do corpo e da mente.

Você conheceu alguns dos grandes nomes da música internacional, como foi seu encontro com Louis Armstrong, na Copa de 1962, no Chile?
Ele me chamou de “my daughter”, mandaram eu chamá-lo de “my father”, pensei que estava chamando ele para fazer outra coisa (risos). Falaram: “Vai lá e chama ele de “my father”, falei: “não, não vou fazer isso, tá louco. E se ele aceitar, se ele gostar, o que eu faço?”. Mas cheguei perto do negão e ele: “yeah, my daughter”, e eu ainda entendia que ele estava me chamando de “doutora, (doctor) e eu pensando: “Pô, o cara me chamando de doutora o tempo todo, meu nome é Elza, Elza Soares”. Aí me explicaram que ele estava me chamando de “filha”, apesar do som parecer “doutora”, e falaram também o que era “my father”… Depois a gente se encontrou no México.

Assista ao trailer de ‘My name is now’, filme sobre Elza Soares:

My Name Is Now, Elza Soares. Diretora Elizabete Martins Campos

Malu Mader aplaude exibição de documentário sobre Elza Soares no Festival do Rio – PURE PEOPLE

O primeiro final de semana do Festival do Rio foi agitado. E Malu Mader até agora aparece como a mais fiel espectadora do evento. Depois de marcar presença na abertura da maratona cinematográfica e na exibição do filme “A Luneta do Tempo”, dirigido por Alceu Valença, a atriz foi à apresentação do documentário “My Name is Now”, que aborda a vida de Elza Soares.

Na plateia do Cinépolis Lagoon, na Zona Sul do Rio, Malu aplaudiu o filme da cineasta Elizabete Martins. Descontraída após a exibição, Elza Soares não titubeou e deu um selinho de agradecimento na diretora que levou sua vida para a tela grande.

No mesmo dia, Maurício Mattar foi com a namorada, Bianca Assumpção, prestigiar a exibição do documentário “Guardiões do Samba”, dos diretores franceses Eric e Marc Belhassen. Aos 90 anos, Nelson Sargento, um dos sambistas retratados no filme, foi conferir de perto a estreia e posou para foto ao lado de Ilda Santiago, diretora do Festival do Rio.

acesse mais: https://www.purepeople.com.br/noticia/malu-mader-aplaude-exibicao-de-documentario-sobre-elza-soares-no-festival-do-rio_a25978/1

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Elza Soares é estrela de documentário no Festival do Rio – O GLOBO

Cantora foi bastante aplaudida na sessão de ‘My name is now’, pela competição da Première Brasil

RIO — Elza Soares olha e fala para a câmera como se visse um espelho, ela própria assumindo o reflexo de um povo por quem é apaixonada e que por ela se apaixonou. A cantora carioca, de 77 anos, é a estrela máxima de “My name is now, Elza Soares”, de Elizabete Martins Campos, documentário em competição pela Première Brasil do Festival do Rio. O filme foi exibido no fim da tarde de sábado, no Cinépolis Lagoon, com a presença da própria Elza, bastante aplaudida pela plateia de convidados logo que entrou na sala.
A sessão foi dupla: antes de “My name is now”, foi exibido o curta-metragem “Diário de novas lembranças”, o primeiro do jovem João Pedro Oct, de apenas 19 anos, e que contou com a narração de Selton Mello. Mas a maior parte do público estava no cinema mesmo para ver e ouvir Elza Soares. No pequeno palco montado no cinema, a diretora Elizabete Martins Campos, estreante em longas-metragens, chamou a cantora de “fênix” e explicou que o projeto não é sobre a vida de Elza, mas sim “sobre o que ela está vivendo”.

Elza também falou antes do filme, com o jeito descontraído e sincero a que os fãs estão acostumados.

– Quando conheci a Bebete (a diretora Elizabete), disse que não queria falar de dor e sofrimento no filme. Queria falar de vida – afirmou Elza. – Hoje eu me namoro. Estou apaixonada por mim, não sei por que não casei comigo mesma. Se eu soubesse que era tão gostosa, tão boa, não teria me dividido com ninguém.

No documentário, Elza aparece em closes, contando histórias, cantando ou até brincando de espalhar o batom em torno de seus lábios. “My name is now” privilegia as imagens e os sons, evitando sequências didáticas que expliquem a trajetória da cantora. Aprende-se, sim, sobre sua história no filme, mas sem linearidade. Por exemplo, ao tratar da importância de Garrincha para a vida da cantora, o documentário mostra cenas do jogador em campo, recortes de revistas com notícias sobre o casal-celebridade e algumas fotos dos dois juntos. Foi incluído, ainda, um filme de Elza cantando “Linda Flor (Ai, Yô Yô)”, ao lado de Garrincha.

As músicas interpretadas por Elza, aliás, estão presentes em todo o filme. Ela entoa canções como “Se acaso você chegasse”, “Volta por cima” e “A carne”. Ela também aparece em situações tão diferentes quanto complementares: num momento está no colorido do desfile de carnaval da Mocidade Independente de Padre Miguel (Elza já foi puxadora e também madrinha da escola); noutro, aparece numa íntima sessão de massagem em cima de uma cama, com direito a um massagista sarado sem camisa.

Sobre o título do documentário, coube à própria Elza explicar, falando para a câmera-espelho de Elizabete Martins Campos: “Tudo meu é agora. Parece que nasci agora. Por isso digo que my name is now”.

Veja mais em: https://oglobo.globo.com/cultura/elza-soares-estrela-de-documentario-no-festival-do-rio-14072051

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Filme sobre Elza balança ao espelhar as valentias e vaidades da ‘Nega fênix’ – NOTAS MUSICAIS

Resenha de documentário musical
Título: My name is now, Elza Soares (Brasil, 2014)
Direção: Elizabete Martins Campos
Roteiro: Elizabete Martins Campos e Ricardo Alves Jr.
Cotação: * * * 1/2
Filme em exibição na edição de 2014 do Festival do Rio, no Rio de Janeiro (RJ)
Sessões de My name is now, Elza Soares no Festival do Rio:
* 28 de setembro de 2014, às 13h - Pavilhão do Festival
* 29 de setembro de 2014, às 14h15m e às 19h15m - São Luiz 4
Quatro anos após exibir Elza (2010), documentário sobre Elza Soares em que os diretores Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan deixaram que a música falasse pela cantora carioca, o Festival do Rio exibe outro filme sobre a artista. Em My name is now, Elza Soares, primeiro longa-metragem da cineasta mineira Elizabete Martins Campos, a Nega fênix – como Elza se autodenomina nos créditos iniciais do filme – toma a palavra. Ao focar a intérprete frente a frente com a câmera, como se essa câmera fosse um espelho imaginário, My name is now acaba refletindo valentias e vaidades de uma artista dura na queda, orgulhosa da própria (sobre)vivência. Ao apresentar o  filme em sessão de convidados do Festival do Rio, no fim da tarde de hoje (27 de setembro de 2014), Elza ressaltou que pediu à diretora – chamada por ela pelo apelido de Bebete – que o documentário falasse de vida e não de dor e sofrimento. Mas, como a dor parece ser a mola mestra que impulsiona Elza a lutar e a viver, o discurso acaba respingando no sofrimento recorrente na vida dessa mulher negra, pobre, que soube driblar humilhações e preconceitos ao longo de seus 84 (não assumidos) anos. Tanto que, perto do fim, o discurso de Elza já soa algo redundante. “A gente se fortalece e se esconde atrás dos aplausos”, diz Elza já no início do filme, entre imagens difusas. Sem recorrer ao formato convencional dos documentários biográficos, geralmente roteirizados com mix protocolar de depoimentos e imagens de arquivo, My name is now foge dos clichês até o momento em que rolam os créditos finais, ao som da música intitulada Elza Soares (Itamar Assumpção, 2010). Mas o documentário não escapa do balanço que rege a vida e a música de Elza Soares, diretora musical do filme. My name is now cai no suingue embutido na voz privilegiada e resistente dessa cantora que se apresenta na tela como compositora, interpretando temas de sua própria lavra, casos do Samba triste – cantado a capella – e de Eu sou Elza. A Nega fênix sabe fazer seu jazz, como mostram os dois temas vocalizados intitulados Improviso I e Improviso II – um alocado no início, outro no fecho do roteiro. Aliás, mostrando segurança como diretora, Elizabete dá toda a voz do filme a Elza, mas não perde o fio da meada do roteiro assinado com Ricardo Alves Jr. e turbinado com alguns números musicais do show Arrepios (2009), feito por Elza com o violonista João de Aquino, gravado ao vivo em São Paulo (SP), mas nunca efetivamente lançado em CD ou DVD. Um desses números é Cobra cainana (João de Aquino e Hermínio Bello de Carvalho, 1978). Em My name is now, a música soa tão forte quanto as falas de Elza. “Choro também de alegria, mas continuo chorando de tristeza”, ressalta a cantora, a certa altura do filme, com lágrimas nos olhos. Gritos uterinos são ouvidos em outra tomada, dando ao filme um contorno mais artístico, quase no limite da experimentação. Das imagens de arquivo, vale destacar o número em que Elza canta Brasil (Cazuza, Nilo Romero e George Israel, 1988) com sotaque americanizado. Um registro do pioneiro samba-canção Linda Flor (Ai, Iôiô) (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Cândido Costa e Marques Porto, 1929) ilustra as cenas que lembram, sem depoimentos, o ruidoso caso de amor da cantora com o jogador de futebol Manuel Francisco dos Santos (1933 – 1983), o Garrincha. A propósito, a morte do filho nascido dessa controvertida união, aos oito anos, é descrita por Elza como “momento de loucura” em sua vida, época em que a cantora subiu morro, se juntou a bandidos e cheirou cocaína – como a própria artista relata no depoimento aparentemente mais espontâneo e menos ensaiado do documentário. Enfim, My name is now, Elza Soares não vai surpreender quem conhece razoavelmente a vida da artista. Mas tem seu mérito, tanto pela coesa forma cinematográfica quanto pela música cheia de valentia (e do suingue) da vaidosa Nega fênix.

Elza Soares, a ‘louca saudável’ – O TEMPO

Por MARCELO MIRANDA 06/08/09 – 18h15
Foto: Charles Silva Duarte

“Se o artista chega na hora, ele perde o valor”, diz Elza Soares, quase 50 minutos depois do horário marcado para a entrevista. E logo emenda: “É mentira. Eu que acordei muito tarde mesmo”.

Elza Soares é a artista por excelência. Em encontro com a imprensa mineira, na manhã de quarta-feira, chegou de cabelão grená (poderíamos falar em “red power”?), longos brincos em forma de folha, meias, botas, óculos escuros e jaquetinha branca sobre couro negro. “Meu lado moleque nunca saiu de mim. Você já parou pra pensar que sou uma filha de lavadeira, que catava comida junto com urubus, e virei uma artista famosa no mundo todo?”

Isso ninguém pode negar. E é para valorizar a trajetória de Elza que a documentarista mineira Elizabete Martins tem acompanhado a cantora em todo lugar, no intuito de registrar seu cotidiano e, em breve, montar um filme. “Ela é naturalmente mágica e, no palco, sempre me remeteu à ideia do espetáculo que o cinema pode ser”, exalta Elizabete – ou simplesmente Bete, como é conhecida no meio audiovisual. “A criatividade da Elza foi o que lhe deu força para ela superar todos os obstáculos.”

Elza conta não ser a primeira vez que tentam levar sua vida ao cinema. Porém, nas propostas anteriores, o foco não a agradava. “Ficavam muito fechados na minha relação com o Mané[Garrincha], nas bebedeiras… Eu não sou isso, né?”

Em Bete, encontrou a sensibilidade que acredita ser necessária para falar sobre seus principais passos como artista e mulher vitoriosa. “Não quero que façam comigo o que fizeram com o Wilson Simonal. Ele sofreu aquilo tudo, morreu e só depois fizeram um filme como se fosse pedido de desculpas”, afirma. E dispara: “Tem que homenagear em vida. Depois que morre, o artista vira nome de rua.”

Sem data. Por enquanto, Bete Martins trabalha com recursos próprios e parcerias. Está na fase de captação de imagens. O filme vai mesclar momentos de dia a dia com encenações, algumas protagonizadas pela própria Elza Soares. “Estamos até agora com 19 horas de material de pesquisa e já filmamos um sonho em que a Elza se vê como escrava num calabouço em Ouro Preto”, adianta.

O objetivo maior é transmitir a noção de uma Elza Soares atemporal, espécie de força da natureza. Nada que não condiza com a visão da própria sobre si mesma. “Sou uma louca saudável. Temos muitos loucos que deixaram grandes trabalhos, como Raul Seixas, Lobão, Tom Zé, Jards Macalé, Cássia Eller. Faço parte dessa falange!”. Mas o que, afinal, é essa loucura toda? “É o nu, é a ousadia, é o extravasamento.”

Jazz. Como boa louca, portanto, Elza Soares não sossega. Nas horas de “folga”, tem se internado em estúdio para gravar o primeiro disco de jazz. “Sempre cantei com ‘big bands’, fui amiga de Ella Fitzgerald, fui descoberta pelo Louis Armstrong… Sempre tive vontade de fazer um disco desses”, celebra. “E vou cantar em inglês! Estou tendo aulas pra poder falar direitinho.”
A inspiração maior, porém, é a diva Nina Simone – dela, Elza canta a composição “Strange Fruit”, cujo tema versa sobre escravos negros. Mas a favorita da cantora, dentro do repertório em andamento, é “Summertime”, imortalizada por Janis Joplin.

 

acesse em: https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/elza-soares-a-louca-saudavel-1.267299

 

 

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