Filhos Separados pela Injustiça

História pouco conhecida pelos brasileiros é exibido hoje pelo Cine Colônia em Maracanaú, no Ceará.

Cena do filme “Filhos Separados pela Injustiça” com Maurício de Tarso Pereira de Jesus, um dos personagens reais do filme. Foto Elizabete Martins Campos


O documentário
“FILHOS SEPARADOS PELA INJUSTIÇA”, direção de Elizabete Martins Campos, que trata da realidade de brasileiros que sofrem na pele, até hoje, com a política de isolamento, ocorrida no Brasil do século XX, que separou do convívio social pessoas atingidas pela hanseníase e promoveu a segregação de seus filhos, embora a doença já havia tratamento desde a década de 1940 é exibido, nesta sexta, 26/02, às 18 horas, pelo Cineclube Colônia, do Instituto Antônio Justa,  de Maracanaú,  Ceará, que realiza um ciclo de sessões de filmes e debates gratuitos,  no Youtube pelo Canal Cine Colônia.

Logo após a sessão do filme, acontece um debate com mediação de Jack Aquino, Assistente Social, Especialista em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho pela Fiocruz BSB, Mestranda em Políticas Públicas de Saúde pela Fiocruz BSB, Coordenadora do Instituto Antônio Justa,  com participação diretora, roteirista, produtora e jornalista Elizabete Martins Campos e de Inhana Olga,  Comunicóloga e professora de Língua Portuguesa na rede estadual de ensino de Minas Gerais. Especialista em Gestão Estratégica em Políticas Públicas (UNICAMP), Mestre em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência (Faculdade de Medicina/UFMG), Coordenadora do núcleo de Santa Izabel/Betim do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) e pesquisadora do Grupo “Os Filhos da Hanseníase – Instituições Totais”, da UFMG.

Coletivo Cineclube Cine Colônia, em Maracanaú, Ceará. Foto Jack Aquino

Para Jack Aquino, Coordenadora do Instituto Antônio Justa, o cineclubismo tem sido uma importante ferramenta de mobilização social. “Cinecolonia é um projeto que abraçamos desde 2017. Através dos filmes exibidos conseguimos discutir a realidade local da colônia Antônio Justa de forma acessível. Esta é a primeira vez que experimentamos sessões virtuais e, isso nos possibilita ampliar nossos debates e estender nossas pautas à realidades de outros estados com colônias de isolamento.  O filme “Filhos Separados pela Injustiça” é forte e traz para o nosso debate uma realidade, ainda pouco conhecida, para quem não viveu a história das colônias e que precisa ser reconhecida e reparada. É esse nosso objetivo, levar ao conhecimento e provocar reflexões sobre o que essas pessoas viveram, fortalecendo a luta dos filhos por reparação.

A diretora do documentário, Filhos Separados Pela Injustiça”, Elizabete Martins, relata que a experiência de conhecer esta realidade é muito inquietante. “São relatos com todo tipo de violação humana, que vão de estrupo a trabalho escravo, agressão física, intelectual, abuso de poder, crime de estado, tudo de pior que possa acontecer a uma pessoa. Espero que o curta possa colaborar para que mais pessoas tenham conhecimento sobre as atrocidades que aconteceram num passado recente no Brasil e seus reflexos na atualidade. E sirva para nunca mais situações como esta e a Ditadura nunca mais volte ao Brasil.  Venho escrevendo um argumento de longa-metragem, que será apresentado para diversos parceiros, principalmente para aqueles diretamente ligado à causa, no caso o  Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) para aprofundar nas origens e situação da hanseníase no mundo, com o título provisório de “Na Pele – As marcas da Negligência”.

O advogado,  voluntário do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), e responsável pelas pesquisas do filme, Thiago Flores, explica que desde 2010 o Morhan reivindica a reparação de direitos dos chamados filhos separados. “As pessoas que foram internadas compulsoriamente até o ano de 1986 em algum hospital colônia no Brasil, recebem uma indenização desde maio de 2007, com a lei 11.520. A luta do Morhan é para que os filhos separados possam receber também uma indenização”, defende. Para o ativista, o documentário é importante “porque registra as injustiças que estas pessoas passaram e passam. 

Cena do filme:  ficha cadastral de crianças de crianças em Instituições onde foram isoladas compulsoriamente de suas famílias pelo Estado Brasileiro. Foto Elizabete Martins Campos

A trilha sonora, assinada pelos músicos Yuri Guerra e Pablo Castro, traz como tema a “Oração de São Francisco”, em alusão ao nome da ex-colônia de Bambuí, em Minas Gerais, cidade onde o filme foi rodado, além da Colônia Santa Izabel em Betim e no  e é interpretada pelo cantor Yuri Guerra, que também assina a narração. Yuri é artista voluntário do Morhan na divulgação de projetos da entidade.

SEPARADOS PELA INJUSTIÇA, direção Elizabete Martins Campos

SINOPSE 

Imagina você na infância sendo arrancado, retirada, afastado, distante, longe, isolada, descampado, solitária, solitário, só, sozinho, recolhido, retraído, desacompanhado, único, desprotegido, desvalido, desamparado, desajustado, abandonado, vago, apartado, separado da sua família, despovoado, desabitado, deserto, suspenso, anulado, inabilitado, cortado, abolido, suprimida, escorraçado, abusada, violentado pelo Estado, Instituições e diferentes tipos de adultos. Esta é uma história real e atual, de brasileiros, em busca de justiça-, os filhos separados pela política pública de internação compulsória da hanseníase, conhecidos como filhos separados.

FICHA TÉCNICA 

FILHOS SEPARADOS PELA INJUSTIÇA

Documentário, 20`43`, Cor e P&B, Brasil, 2017.

Direção, Roteiro, produção Elizabete Martins Campos

Pesquisa e Produção Thiago Pereira da Silva Flores

Direção de Fotografia e Montagem Fred Tonucci

Imagens Fred Tonucci, Elizabete Martins Campos, Arquivos Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Morhan

Assistente de Produção Ander Pereira Menezes

Narração Yuri Guerra – artista voluntário do Morhan Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Morhan

Trilha sonora Yuri Guerra e Pablo Castro

Cantorias José Raimundo Rodrigues, Maria Aparecida Domingos, Maria Luiza da Silva

Depoimentos na ordem de aparição no documentário Maria Aparecida Domingos, Isaltina Maria Pereira, Pedro de Paula Costa, Maurício de Tarso Pereira de Jesus, Perina Maria de Vasconcelos, José Raimundo Rodrigues, Maria Luiza da Silva, Paulo Jeova Navarro Queiroz

Documentário foi financiado pelo Programa de Reorientação da Formação Profissional em Saúde / PRÓ-SAÚDE III

Parceria Pró-saúde, PUC MINAS, Conselho municipal de saúde, Morhan – Morhan Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, Prefeitura de Betim

Apoio Yuri Guerra

Realização: IT Filmes, Comunicação e Entretenimento

 SOBRE A CINE COLÔNIA 

O Cine Colônia é uma ação cineclubista realizada no bairro Antônio Justa, em Maracanaú/CE. É um cineclube vinculado às ações do Instituto Antônio Justa, e se alinha aos objetivos do coletivo: a luta pelo direito à terra, à memória e à saúde. O bairro surge a partir da Colônia Antônio Justa, fundada em 1942 para isolamento compulsório de pessoas diagnosticadas com Hanseníase, e se consolida a partir da década de 1990. Uma das ações mais significativas do Cine Colônia é a de realização de sessões no antigo Cineteatro da Colônia, onde atualmente funciona o Centro de Referência em Assistência Social – CRAS.

Antigo Cine Clown, cineclube que deu origem ao atual Cine Colônia, em Maracanaú, no Ceará. Foto Virgínia Pinho

O Coletivo Antônio Justa Presente, hoje Instituto Antônio Justa, existe desde 2017 como movimento social apartidário e independente, surgido da mobilização da comunidade, do encontro de pessoas que de alguma forma se identificam com essa história, seja por questões afetivas com o território, por senso de justiça, por interesse na verdadeira transformação social. Assim, moradores, filhos de ex-pacientes, pesquisadores e pessoas sensíveis à causa, se uniram para resistir. Resistir ao abandono da memória da Colônia Antônio Justa; Resistir ao descaso com seus moradores que vivem em condições precárias; Resistir, principalmente, pelo direito à moradia digna e à saúde. 

Foto arquivo da antiga Colônia Antônio Justa, em Maracanaú, Ceará

No Brasil, até meados do século XX, pessoas diagnosticadas com Ha nseníase eram obrigadas a se isolar em hospitais-colô nias , uma política que consistia no afastamento dos doentes por meio de internação compulsória. Esse tipo de tratamento, baseado na segregação social, foi abolido no Brasil na década de 1960, quando existiam 102 hospitais-colônias em todo o País. Fundada em 1942 para isolamento com pulsório de pessoas diagnosticadas com Hanseníase, a Colônia Antônio Justa existe hoje como um bairro com baixo IDH de Maracanaú, marcado pela precariedade de serviços e assistência de políticas públicas. Nesse contexto tornou-se possível a criação do Instituto Antônio Justa, uma ação coletiva de moradores, profissionais da saúde, e ativistas sociais, que entre as várias ações também mobilizam o Cine Colônia – cineclube que realiza sessões afetivas com o território, como gesto de permanência de uma memória permanentemente sob o risco de desaparecimento.

Suas sessões expõem a necessidade de uma contínua mobilização dos moradores, filhos de ex-pacientes, pesquisadores e pessoas sensíveis à causa, para amplifica r ações concretas de melhorias territoriais, tão marcadas pelo preconceito e falta de oportunidades. Contemplado no edita l de Apoio ao Audiovisual Cearense – Lei Aldir Blanc na categoria Manutenção de Cineclubes, o Cine Colônia apresenta algumas de suas mais importantes bandeiras: a luta pela permanência de uma memória coletiva, a luta pela reparação aos ex-pacientes e familiares pelos

internamentos compulsórios, a luta pelo direito à moradia digna dos habitantes do bairro e à saúde pública de qualidade. Nesse sentido, o Cine Colônia formatou uma programação diversa chamada CINE COLÔNIA EM AÇÃO, que passa por sessões especiais em formato remoto e também presencial, realizadas para grupos já atendidos pelas ações do Instituto Antônio Justa e seguindo os protocolos sanitários vigentes.

A programação do CINE COLÔNIA EM AÇÃO é composta por duas mostras especiais, em formato presencial e remoto. A mostra “Revoada de Pirilampos” configura as sessões presenciais que simbolizam a retomada doCine Colônia em suas exibições na comunidade depois de uma longa pausa em decorrência das

restrições da COVID-19. Tomando todos os cuidados protocolares vigentes, as sessões apresentarão uma mescla de exibições de filmes e de pequenos espetáculos teatrais de artistas e grupos culturais

de Maracanaú. Mesmo com um público restrito, as sessões presenciais vem para celebrar simbolicamente o reflorescimento das atividades culturais na comunidade a médio e longo prazo.

Já a mostra “A Outra Margem” apresentará alguns filmes que narram histórias coletadas de alguns hospitais-colônias espalhados pelo Brasil, ampliando o debate sobre saúde e direitos sociais, regularização fundiária, memória e patrimônio material e imaterial que atinge essas comunidades. 

As sessões do CINE COLÔNIA EM AÇÃO, fomentado com recursos da Lei 14.017/2020 – Lei Aldir Blanc – por meio da Secretaria Estadual da Cultura do Ceará.

Serviço:

SESSÃO e DEBATE CINE COLÔNIA

Programação Gratuita

Quando: 26 DE FEVEREIRO DE 2020

Onde:  Assista ao vivo aqui neste link

Horários: 

18h – exibição do filme FILHOS SEPARADOS PELA INJUSTIÇA

19h – debate ao vivo on line

Projeto fomentado com recursos da Lei 14.017/2020 – Lei Aldir Blanc – por meio da Secretaria Estadual da Cultura do Ceará @secultceara

Realização

CINE COLÔNIA

INSTITUTO ANTÔNIO JUSTA

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