Por LUCAS BUZATTI – 28/09/16 – 17h18
O filme descortina a história de Elza Soares por meio de uma narrativa musical e performática
Foto: Paolo Giron/Divulgação
“Parece que eu nasci agora. Tudo meu é ‘now’”, sintetiza Elza Soares. De fato, o tempo presente é o que rege a caminhada da carioca. Se, em 2.000, Elza foi considerada a “cantora do milênio” pela BBC de Londres,15 anos depois ela manteve o posto, com louvor, ao lançar “A Mulher do Fim do Mundo”, um dos discos brasileiros mais aclamados pela crítica no ano passado. Em 2016, a Voz do Brasil volta aos holofotes numa empreitada audiovisual: o filme “My Name Is Now”, dirigido por Elizabete Martins Campos. Realizado pela IT Filmes, produtora cinematográfica de Betim, o longa é o único mineiro entre os 10 finalistas do Prêmio Netflix, cuja votação online pode ser feita até o dia 3 de outubro, pelo link www.premionetflixbr.com/movie/5.
Elizabete Martins Campos conta que o argumento do filme surgiu quando ela buscava um conceito para seu primeiro longa-metragem. “Sempre gostei de retratar o Brasil, de falar de temáticas impregnadas no imaginário coletivo, de culturas e referências históricas. Quando comecei a pensar em qual seria meu primeiro longa, fiquei encantada ao me deparar com Elza durante uma entrevista para o programa ‘Agenda’, da Rede Minas, onde trabalhei por quatro anos”, relembra.
Diante de Elza Soares, a diretora percebeu um guarda-chuva temático que ia muito além da música. “Vi nela assuntos que me interessavam como argumento para o projeto. Elza é um ícone da cultura brasileira. Mulher negra, de periferia, dona de uma das vozes mais potentes do samba, que inclusive completa 100 anos em 2016”, defende. “Quando ela se casou com Mané Garrincha, consumou o casamento entre o samba e o futebol. Queria mostrar esse perfil, que fala tanto da sociedade brasileira. Além de tudo, é uma personagem que traz consigo a música. As letras das canções contam toda a sua história”, diz.
Com a personagem definida, Martins Campos começou a produção do filme, em 2008, de forma modesta. “Comecei filmando sozinha, câmera na mão, enquanto buscava apoio. Decidi que, se desse errado, faria um documentário experimental apenas com as minhas imagens”, conta. “Mas fui desenvolvendo o projeto e, em 2012, consegui apoio do BMG e montamos uma equipe de cinema, que começou a filmar no mesmo ano”, afirma a diretora mineira.
Com novos aportes, “My Name Is Now” ganhou outra proporção: 75 pessoas trabalhando, 60 terabytes de arquivos, 150 horas de gravação e 1.825 dias de produção. “Fizemos a primeira exibição no Festival de Cinema do Rio, em 2014, quando recebemos quatro indicações. Depois disso, o filme já passou por 17 festivais nacionais e internacionais”, celebra, apostando em novas conquistas.
“O Prêmio Netflix foi uma surpresa. Não esperávamos, já que é um filme totalmente independente”, diz a diretora. “É uma chance única de colocar o filme num catálogo global, uma visibilidade que coroa o trabalho. Também estamos buscando patrocínio para colocá-lo em salas de cinema e nos circuitos escolares e de cine-clubes antes de junho de 2017, que é quando o filme entra na Netflix, caso seja um dos vencedores do prêmio”, completa.
Elza por Elza. Segundo Elizabete Martins Campos, “My Name Is Now” traça a história de Elza soares por meio de uma narrativa pessoal e poética. “O filme tem apenas Elza em primeiro plano, e se apoia em duas estruturas, uma musical e outra performática”, diz.
A diretora ressalta que a performance fica por conta das imagens em que Elza aparece conversando com um espelho. “A primeira cena mostra Elza chegando em casa e conversando com o espelho, num papo que pode ser com ela mesma, com o público, com qualquer um. A partir dali, ela vai contando os altos e baixos de sua saga”, afirma.
Costurado por músicas e cenas de Elza ao vivo, o longa traça a caminhada da carioca de forma não linear. “A história dela está ali, mas não desenhada. A intenção da direção foi potencializar essa voz tão múltipla e representantiva. Ali estão várias Elzas falando para outras tantas Elzas”, finaliza.
Votação. Dez produções nacionais concorrem ao Prêmio Netflix, sendo “My Name Is Now” a única mineira. Para votar, acesse, até o dia 3 de outubro, o link www.premionetflixbr.com/movie/5.